quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Hipnose: a pá que cava tesouros escondidos

Hipnose: a pá que cava tesouros escondidos




A maioria das pessoas já ouviu falar de hipnose, mas poucas sabem realmente do que se trata. Você pode já ter assistido a um programa de televisão em que alguém era hipnotizado e comia uma cebola sentindo o sabor de uma maçã, ou alguma outra demonstração similar. Tais indivíduos podem até dominar determinadas técnicas, mas carecem de senso ético. A hipnose é um fenômeno que demonstra que nossas capacidades vão muito além do que estamos acostumados a experimentar no cotidiano; através dela podemos trazer à tona recursos internos que não acessamos normalmente. Utilizá-la em demonstrações fúteis, sensacionalistas, sem um fim relevante, é utilizá-la de forma leviana.







Para nós, psicólogos, o uso da hipnose é aprovado e regulamentado pela Resolução CFP Nº 013/00 de 20 de Dezembro de 2000, como um recurso terapêutico auxiliar. É importante para as pessoas que buscam ajuda profissional assegurar-se de que o escolhido é habilitado, informar-se e, se necessário, denunciar aos órgãos responsáveis. Mas o que é, afinal, a hipnose?







Podemos conceituá-la como um estado alternativo de consciência, atenção e percepção, “no qual as limitações que uma pessoa tem, no que diz respeito à sua estrutura comum de referências e crenças, ficam temporariamente alteradas, de modo que a pessoa se torna receptiva aos padrões, às associações e aos moldes de funcionamento que conduzem à solução de problemas”, de acordo com Milton Erickson, o criador da hipnose moderna. Hipnose moderna? E como é isso?







A forma mais conhecida de hipnose, inclusive devido aos programas de televisão anteriormente citados, é aquela a qual chamamos de clássica: o sujeito permanece numa posição passiva, na qual é submetido diretamente às sugestões do hipnotizador, que determina “como”, “quando” e “o quê” ele experimenta. O mesmo padrão de tratamento, com as mesmas sugestões é aplicado a todos os indivíduos com aquele diagnóstico de “depressão”, “fobia”, “tabagismo”, etc.







Milton Erickson (1901 – 1980) criou novas formas de utilizar a hipnose, proporcionando um transe natural no qual o foco de atenção é interior. A hipnoterapia ericksoniana é um procedimento individualizado, ou seja, feito sob medida para aquela pessoa, naquele momento. Não tratamos “a depressão” mas sim aquele indivíduo, que vivencia aquelas dificuldades, do seu jeito particular e vai participando ativamente do processo, que não é determinado pelo terapeuta, mas orientado no sentido de facilitar que o mesmo entre em contato com seus recursos inconscientes que podem levá-lo à solução de suas dificuldades.





O uso do termo “terapeuta” no lugar de “hipnotizador” atenta para o fato de que somos profissionais de saúde, portanto, nosso objetivo é sempre proporcionar bem-estar e melhorar a qualidade de vida das pessoas. A hipnose é ainda temida por muitos devido a idéias equivocadas tais como “a pessoa fica inconsciente e é controlada”; “a pessoa conta todos os seus segredos”; “a pessoa pode não voltar mais”. Na verdade, no estado de transe hipnótico não perdemos a consciência e não fazemos nada que não queiramos fazer; as sugestões podem ser aceitas ou não. E é impossível não voltar do transe; no máximo, podemos dormir e depois acordar normalmente. Além desses, há muitos outros mitos que podemos ir esclarecendo aos poucos.







Por ora, apresentamos a hipnose como um recurso facilitador, que acelera o processo terapêutico e pode trazer resultados fantásticos se bem utilizada. Amplas são as suas possibilidades de aplicação, abrangendo os mais diversos problemas de saúde e situações de vida, tais como estresse, transtornos alimentares, ansiedade, depressão, fobias, pânico, problemas de pele, disfunções sexuais, distúrbios do sono, dor, luto, baixa autoestima, timidez, entre tantos outros. O tesouro guardado todos nós temos. Mas para encontrá-lo é preciso pegar uma pá e cavar.




 

Camila Sousa de Almeida







Publicado no Portal Sergipe Saúde:




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